Банкир-анархист и другие рассказы
Шрифт:
«'E claro que esta liberdade, que deve haver cuidado em n~ao estorvar, 'e a liberdade futura e, no presente, a liberdade dos oprimidos pelas ficc~oes sociais. Claro est'a que n~ao temos que olhar a n~ao estorvar a «liberdade» dos poderosos, dos bem-situados, de todos que representam as ficc~oes sociais e t^em vantagem nelas. Essa n~ao 'e liberdade; 'e a liberdade de tiranizar, que 'e o contr'ario da liberdade. Essa, pelo contr'ario, 'e o que mais dev'iamos pensar em estorvar e em combaten Parece-me que isto est'a claro…
— Est'a clar'issimo. Continu'e…
— Para quem quer o anarquista a liberdade? Para a humanidade inteira. Qual 'e a maneira de conseguir a liberdade para a humanidade inteira? Destruir por completo todas as ficc~oes sociais. Como se poderiam destruir por completo todas as ficc~oes sociais? J'a lhe antecipei a explicac~ao, quando, por causa da sua pergunta, discuti os outros sistemas avancados e lhe expliquei como e porque era anarquista… Voc^e lembra-se da minha conclus~ao?…
— Lembro…
— …Uma revoluc~ao social s'ubita, brusca, esmagadora, fazendo a sociedade passar, de um salto, do reg'imen burgu^es para a sociedade livre. Esta revoluc~ao social preparada por um trabalho intenso e continuo, de acc~ao directa e indirecta, tendente a dispor todos os esp'iritos para a vinda da sociedade livre, e a enfraquecer at'e ao estado comatoso todas as resist'encias da burguesia. Escuso de lhe repetir as raz~oes que levam inevitavelmente a esta conclus~ao, adentro do anarquismo; j'a lhas expus e voc^e j'a as percebeu.
— Sim.
— Essa revoluc~ao seria preferivelmente mundial, simult^anea em todos os pontos, ou os pontos importantes, do mundo; ou, n~ao sendo assim, partindo r'apidamente de uns para outros, mas, em todo o caso, em cada ponto, isto 'e, em cada nac~ao, fulminante e completa.
«Muito bem. O que poderia eu fazer para esse fim? S'o por mim, n~ao a poderia fazer a ela, 'a revoluc~ao mundial, nem mesmo poderia fazer a revoluc~ao completa na parte referente ao pa'is onde estava. O que eu podia era trabalhar, na inteira medida do meu esforco, para fazer a preparac~ao para essa revoluc~ao. J'a lhe expliquei como: combatendo, por todos os meios acess'iveis, as ficc~oes sociais; n~ao estorvando nunca ao fazer esse combate ou a propaganda da sociedade livre, nem a liberdade futura, nem a liberdade presente dos oprimidos; criando j'a, sendo poss'ivel, qualquer coisa da futura liberdade.
Puxou fumo; fez uma leve pausa; recomecou.
* * *
— Ora aqui, meu amigo, pus eu a minha lucidez em acc~ao. Trabalhar para o futuro, est'a bem, pensei eu; trabalhar para os outros terem liberdade, est'a certo. Mas ent~ao eu? Eu n~ao sou ningu'em? Se eu fosse crist~ao, trabalhava alegremente pelo futuro dos outros, porque l'a tinha a minha recompensa no c'eu; mas tamb'em, se eu fosse crist'ao, n~ao era anarquista, porque ent~ao as tais desigualdades sociais n~ao tinham import^ancia na nossa curta vida: eram s'o condic~oes da nossa provac~ao, e l'a seriam compensadas na vida eterna. Mas eu n~ao era crist~ao, como n~ao sou, e perguntava-me: mas por quem 'e que eu me vou sacrificar nisto tudo? Mais ainda: por que 'e que eu me vou sacrificar?
«Vieram-me momentos de descrenca; e voc^e compreende que era justificada… Sou materialista, pensava eu; n~ao tenho mais vida que esta; para que hei-de ralar-me com propagandas e desigualdades sociais, e outras hist'orias, quando posso gozar e entreter-me muito mais se n~ao me preocupar com isso? Quem tem s'o esta vida, quem n~ao
«Eu discut'i a situac~ao comigo mesmo. Repara tu, dizia eu para mim, que nascemos pertencentes `a esp'ecie humana, e que temos o dever de ser solid'arios com todos os homens. Mas a ideia de
«dever» era natural? De onde 'e que vinha esta ideia de «dever»? Se esta ideia de dever me obrigava a sacrificar o meu bem-estar, a minha comodidade, o meu instinto de conservac~ao e outros meus instintos naturais, em que diverg'ia a acc~ao dessa ideia da acc~ao de qualquer ficc~ao social, que produz em n'os exactamente o mesmo efeito?«Esta ideia de dever, isto de solidariedade humana, s'o podia considerar-se natural se trouxesse consigo uma compensac~ao ego'ista, porque ent~ao, embora em princ'ipio contrariasse o ego'ismo natural, se dava a esse ego'ismo uma compensac~ao, sempre, no fim de contas, o n~ao contrariara. Sacrificar um prazer, simplesmente sacrific'a-lo, n~ao 'e natural; sacrificar um prazer a outro, 'e que j'a est'a dentro da Natureza: 'e, entre duas coisas naturais que se n~ao podem ter ambas, escolher uma, o que est'a bem. Ora que compensac~ao ego'ista, ou natural, podia dar-me a dedicac~ao `a causa da sociedade livre e da futura felicidade humana? S'o a consci^encia do dever cumprido, do esforco para um fim bom; e nenhuma destas coisas 'e uma compensado ego'ista, nenhuma destas coisas 'e um prazer em si, mas um prazer, se o 'e, nascido de uma ficc~ao, como pode ser o prazer de ser !mensamente rico, ou o prazer de ter nascido em uma boa posic~ao social.
«Confesso-lhe, meu velho, que me vieram momentos de descrenca… Senti-me desleal `a minha doutrina, traidor a ela… Mas em breve passei sobre tudo isto. A ideia de justiga c'a estava, dentro de mim, pensei eu. Eu sentia-a natural. Eu sentia que havia um dever superior `a preocupac~ao s'o c'a do meu destino. E fui para diante na minha intenc~ao.
— N~ao me parece que essa decis~ao revelasse uma grande lucidez da sua parte… Voc^e n~ao resolveu a dificuldade… Voc^e foi para diante por um impulso absolutamente sentimental…
— Sem d'uvida. Mas o que lhe estou contando agora 'e a hist'oria de como me tornei anarquista, e de como o continuei sendo, e continuo. Vou-lhe expondo lealmente as hesitac~oes e as dificuldades que tive, e como as venci. Concordo que, naquele momento, venci a dificuldade l'ogica com o sentimento, e n~ao com o raciocinio. Mas voc^e h'a-de ver que, mais tarde, quando cheguei `a plena compreens~ao da doutrina anarquista, esta dificuldade, at'e ent~ao l'ogicamente sem resposta, teve a sua soluc~ao completa e absoluta.
— 'E curioso…
— 'E… Agora deixe-me continuar na minha hist'oria. Tive esta dificuldade, e resolvi-a, se bem que mal, como lhe disse. Logo a seguir, e na linha dos meus pensamentos, surgiu-me outra dificuldade que tamb'em me atrapalhou bastante.
«Estava bem — vamos l'a — que estivesse disposto a sacrificar-me, sem recompensa nenhuma propriamente pessoal, isto 'e, sem recompensa nenhuma verdadeiramente natural. Mas suponhamos que a sociedade futura n~ao dava em nada do que eu esperava, que nunca havia a sociedade livre, a que diabo 'e que eu, nesse caso, me estava sacrificando? Sacrificarme a uma ideia sem recompensa pessoal, sem eu ganhar nada com o meu esforgo por essa ideia, v'a; mas sacrif'icar-me sem ao menos ter a certeza de que aquilo para que eu trabalhava existir'ia um dia, sem que a pr'opria ideia ganhasse com o meu esforco — isso era um pouco mais forte… Desde j'a lhe digo que resolv'i a dif'iculdade pelo mesmo processo sentimental por que resolv'i a outra; mas advirto-o tamb'em que, no mesmo modo que a outra, resolv'i esta pela l'ogica, autom'aticamente, quando cheguei ao estado plenamente consciente do meu anarquismo… Voc^e depois ver'a… Na altura do que lhe estou contando, sa'i-me do apuro com uma ou duas frases ocas. «Eu fazia o meu dever para com o futuro; o futuro que fizesse o seu para comigo»… Isto, ou coisa que o valha…