Банкир-анархист и другие рассказы
Шрифт:
A uma bordadora dum pa'is long'inquo foi encomendado pela sua rainha que bordasse, sobre seda ou cetim, entre fo-lhas, uma rosa branca. Abordadora, como era muitojovem, foi procurar por toda a parte aquela rosa branca perfeit'issima, em cuja semelhanca bordasse a sua. Mas sucedia que umas rosas eram menos belas do que lhe convinha, e que outras n~ao eram brancas como deviam ser. Gastou dias sobre dias, chorosas horas, buscando a rosa que imitasse com seda, e, como nos pa'ises long'inquos nunca deixa de haver pena de morte, ela sabia bem que, pelas leis dos contos como este, n~ao podiam deixar de a matar se ela n~ao bordasse a rosa branca.
Por fim, n~ao tendo melhor rem'edio, bordou de mem'oria a rosa que lhe haviam exigido. Depois de a bordar foi compar'a-la com as rosas brancas que existem realmente nas roseiras. Sucedeu que todas as rosas brancas se pareciam exactamente com a rosa que ela bordara, que cada urna delas era exactamente aquela.
Ela levou o trabalho ao pal'acio e 'e de supor que casasse com o pr'incipe.
No fabul'ario onde vem, esta f'abula n~ao traz moralidade. Mesmo porque, na idade de ouro, as f'abulas n~ao tinham moralidade nenhuma.
Empresa fornecedora de mitos, Ida
— Est'a ali, disse a criada, um sujeito que lhe quer falar.
— N~ao disse quem era? perguntei.
— Deu este bilhete, disse ela sem salva.
Pequei no bilhete, e o que li nele fez com que me sentasse direito na cadeira, contra todas as tradic~oes que acumulei na minha vida sem decis~oes.
O bilhete dizia assim predominantemente:
EMPRESA FORNECEDORA DE MITOS, LIMITADA.
E, por baixo, lia-se, a subordinac~ao do costume:
«Representada por…»
— Este sujeito perguntou por mim? inquir'i d'ela.
— Perguntou pelo
— Bem, disse, manda-o entrar…
O cart~ao n~ao dizia morada, nem, al'em destas, trazia uma indicac~ao qualquer.
O caixeiro de praca, ou viajante, entrou no meu gabinete com a seguranca f'isica que 'e peculiar da classe. Diferencava-se dos cong'eneres meus conhecidos em n~ao trazer mala nem sorriso. Cumprimentou-me cerimoniosamente, com um abaixar leve da cabeca. Indiquei-lhe que se sentas-se. Sentou-se, e fitou-me um momento.
— Desejava?.. meio perguntei.
Ele curvou-se levemente para mim, e comecou a expor a sua miss~ao numa voz que, sem deixar de ser um pouco mon'otona, n~ao o era contudo desagradavelmente.
— Antes de lhe explicar, com a devida min'ucia, a natureza e qualidades dos artigos que tenho a oferecer, desejava fazer-lhe, se mo permite, uma breve exposic~ao das raz~oes que levaram a casa que represento — primeiro, a fundar-se, segundo, a produzir, com a ci^encia e o escr'upulo que mostrarei, as qualidades e tipos de artigos em que se especializou industrialmente.
Acenei que sim, vagamente, percebendo s'o, por enquanto, que nada por enquanto percebia.
O meu visitante, que fitara o ch~ao um momento, tornou em breve a erguer a cabeca.
— A sociedade comp~oe-se de tr^es camadas distintas. A primeira 'e a dos criadores de mitos, e 'e a verdadeira aristocracia. Propriamente h'a criadores e transformadores de mitos — os homens de g'enio e os de talento, tomando cada palavra um sentido de valia mais alto que geralmente se lhe concede. — A segunda camada 'e a dos [15]. Um soldado que se bate por Napole~ao sente em si uma vida mais vasta e grande que o homem que passa na vida nulo, e an'onimo para si mesmo.
— Mas, nesse caso, porque protestas contra os mitos revolucion'arios e radicais modernos?
— Porque esses t^em a pretens~ao de n~ao ser mitos…
— Mas todo o mito, para ter forca, tem que impor-se com verdade. N~ao h'a crist~aos onde se considera como mito o mito crist~ao.
— N~ao 'e bem isso… os mitos revolucion'arios tenndem a destruir a 'unica realidade, que 'e a distinc~ao de classes. A'i 'e que est'a a sua inutilidade e a sua falsidade social. Que se defenda uma aristocracia diferente da actual, entende-se; mas que se n~ao defenda aristocracia nenhuma…
— Mas pode defender-se uma aristocracia de trabalho, segundo os pr'oprios mitos radicais…
— Propriamente n~ao se defende, mas admita-se que sim… Ora o trabalho n~ao pode ser um mito, porque 'e uma realidade. Sim: produzir 'e criar realidade, isto 'e, coisas inteiramente in'uteis. Um mito 'e a criac~ao de irrealidades isto 'e, coisas 'uteis, vivas, que duram e perduram. De todas as ind'ustrias modernas, disse ele, aquela que, sendo embora exercida em larga escala, o 'e contudo ainda de um modo inteiramente emp'irico, 'e a industria pol'itica. Ora o caminho natural da invenc~ao — e a nossa 'epoca 'e acentuadamente uma 'epoca inventiva — 'e o de encontrar f'ormulas cient'ificas, e processos derivados dessas f'ormulas, para eliminar o empirismo, a grosseria t'ecnica, que 'e o primeiro est'adio inevit'avel de qualquer arte ou de qualquer ind'ustria. Por que raz~ao n~ao se teria ainda algu'em lembrado de introduzir a ci^encia e a t'ecnica racional no empirismo pol'itico, destruindo-o e aperfeicoando a pol'itica? Pela simples raz~ao que ningu'em ainda disso se tinha lembrado. At'e o primeiro que se lembra, ningu'em se lembrou, em coisa nenhuma. Ora a minha firma foi a primeira que reparou que estava ainda livre o campo inventivo na ind'ustria pol'itica. A minha firma inventou os processos t'ecnicos desta ind'ustria.
* * *
E desapareceu, sem mala e sempre sem o sorriso, do meu limitad'issimo horizonte.
O filatelista
(A inutilidade de dar conselhos)
Eu n~ao aconselho. Colecciono selos. Para dar conselhos 'e preciso estar absolutamente seguro de que os conselhos s~ao bons, e para isso 'e preciso estar certo (o que em absoluto ningu'em est'a) que se est'a na posse da verdade. E, depois, 'e preciso saber se esses conselhos se adaptam ao indiv'iduo a que se est~ao dando, e para isso 'e preciso conhecer-lhe a alma toda, o que nunca se pode dar. E, al'em disto, ainda h'a que o modo de dar os conselhos deve ser exactamente o adaptado `aquela alma; aconselham `as vezes coisas que n~ao se quer que se facam para, combinadas com elementos outros da alma aconselhada, darem o resultado que se quer. S'o gente muito ing'enua d'a conselhos.
O que n'os temos por verdade 'e apenas a mais prov'avel, ou a mais improv'avel de v'arias probabilidades. Assim, qualquer indiv'iduo, por normalmente certo que no assunto se sinta, n~ao pode jurar, com absoluta consci^encia intelectual, n~ao s'o de que tal indiv'iduo do sexo masculino 'e seu pai, mas tamb'em de que tal outro, do sexo feminino, 'e sua m~ae. Para crer que quem 'e tido por seu pai o 'e realmente, o mais que ele tem 'e, n~ao lhe constando que sua m~ae tivesse tra'ido o marido, o julgue que n~ao o fez nunca. Para ter certeza, intelectual, de que tal indiv'iduo 'e pai de outro era preciso ter assistido ao acto da fundac~ao, ter inspeccionado de perto a fecundidade — de modo a n~ao haver certeza — e ainda assim restava a ideia de paternidade metafisicamente considerada para mais embrulhar o assunto. Quanto a um indiv'iduo n~ao poder afirmar que tal mulher 'e sua m~ae, quem lhe diz que, parido por ela um ente masculino, este n~ao foi substitu'ido por outro parido, pela ama por exemplo, e por hip'otese? O mais que se pode dizer 'e que isto 'e improv'avel — ou antes, que 'e menos prov'avel que a hip'otese contr'aria. Mas certeza certa propriamente n~ao a h'a.
O que chamamos verdade n~ao o 'e para certezas, 'e o que envolve uma improbabilidade menor, uma maior soma de probabilidades. Tanto basta para entreabrir a porta ao suspeitar. E uma porta entreaberta, porque n~ao 'e uma porta fechada, 'e uma porta aberta. O suspeitar entra.
A afirmac~ao que o mundo pode bem ser il'ogico peca por querer explicar pelo
«n~ao ter explicac~ao». Porque n~ao pode o mundo ser ou l'ogico ou il'ogico. E porque n~ao outra coisa ainda que n~ao seja nada?